Olhando o mundo ao nosso redor somos tentados a desviar os olhos ao ver tanta necessidade. Sentir-nos impotentes diante deste quadro nos leva não poucas vezes a ignorar a ordem expressa de “erguer os olhos e ver os campos que se branquejam para a ceifa” (João 4:35b). É impossível também tapar os ouvidos para tantos gritos e clamores. Barulhos dos tanques e caminhões; da maquinaria pesada roncando nas ruas estreitas e agora quase desertas de Bagdá. As poderosas e ultramodernas armas de guerra que gritam alto ao toque de dedos nervosos em seus disparadores e em fração de segundos, o grito ecoa nos corpos que caem. O ronco ensurdecedor dos aviões; os mísseis sibilando perseguindo seus alvos; luzes esverdeadas no céu de veludo negro, como se fora um grande videogame, fazendo da vida uma brincadeira de mau gosto. O grito das mães, diante dos parentes mortos seja em nome de Deus ou de Alá. As mãos para cima clamando por uma justiça humana que nunca vem. Os gritos, os tiros, o pranto... Milhões de estômagos vazios também produzem sons pela falta de alimento seja nas regiões mais remotas e esquecidas da África, Ásia ou América Latina como também nas favelas dos grandes centros urbanos. A mesma fome que produz o choro, também o cala.
O choro também pode ser baixinho ficando assim difícil percebê-lo quando escondido quase que camuflado entre quatro paredes. Choro de mulheres espancadas e negociadas como mercadoria barata, valendo menos que um camelo. É o choro das mulheres do Afeganistão entre tantas outras no mundo islâmico, escondido quase sempre atrás das grossas e negras burcas. O choro das crianças abandonadas á própria sorte e exploradas sexualmente por “turistas” ocidentais nas praias ensolaradas do Sri Lanca, Filipinas ou Tailândia. Algumas tão pequenas e inocentes que pensam estar fazendo algo bom ao voltarem para casa com as poucas moedas nas mãozinhas sujas. O choro sem som ou lágrimas de quem perdeu as esperanças de uma vida melhor, ao se verem escravizados pelos deuses guerreiros do Hinduísmo, tentando em vão lavar a decepção nas águas sujas do Ganges. O choro dos pais ao perderem os filhos adolescentes para o mundo das drogas, sexo e por fim do satanismo. O choro disfarçado em “tudo bem” dos filhos que perderam os pais para um mundo moderno e sem preconceitos onde o divórcio é algo comum e natural deixando milhões de órfãos.
Existe ainda um jeito mais sutil e disfarçado de chorar manifesto ora nos desejos incontroláveis de se “consumir” para se sentir melhor ou aceito ao vestir esta marca ou aquela, ora para se sobressair em um mundo competitivo, atropelando os outros para se chegar ao topo. É o choro hipócrita e fingido da fama, onde disfarçar é o melhor negócio.
Nesta negra lista poderíamos com toda certeza incluir ainda o choro dos excluídos que sofrem preconceitos, sejam eles de cor, raça ou posição social. O choro dos que perderam tudo nas roletas da vida, dos que enterraram os entes queridos mortos pela guerra urbana, pelo tráfico ou para usar uma linguagem mais moderna, pelas balas perdidas. O choro que vem das favelas ou dos condomínios de luxo dos bairros classe alta. Choro que pode se distinguir no sotaque, na raça ou credo, na intensidade ou motivo, mas que continua sendo choro. Existe ainda o choro dos aposentados ao verem o dinheiro sumir a cada dia e principalmente por serem tratados com tanto descaso pelas autoridades. O choro dos desempregados ao enxugar as lágrimas com a própria folha dos classificados. O choro de... Ah! Existem tantos outros tipos.
Deus também chora. Você duvida? Chora sim ao ver aquele que é a “coroa” da sua criação, ou seja, o homem se desviar de seus caminhos e propósitos da mesma forma que o pai chorou ao ver o filho pródigo, amado e precioso ir embora naquele cinzento e fatídico dia.
Nós também deveríamos chorar diante da realidade nua e fria que nos cerca. Aliás, é o que tem faltado nestes dias. Gente que esteja pronta a chorar. Precisamos mais que nunca retomar este antigo e esquecido exercício de lamentar pelos perdidos. Chorar Por um mundo que se esqueceu do seu Criador e Deus. De agonizarmos em intercessão no meio da noite pelos não convertidos. A própria Palavra nos conclama a “chorar com os que choram”. Chorar é identificar com eles nas suas misérias e angustias carências e necessidades. Isto é bom não somente para lavar a alma, como dizem alguns, mas também porque nos torna mais próximos uns dos outros.
Missões é a tarefa de se identificar com os perdidos nas suas mais profundas necessidades. Jesus veio para isto. Identificar é também tomar a dor deles para nós. Sofrer com eles e por eles como Ele o fez. Isto sim é fazer Missões.


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